Por Léo Borba, jornalista
A brisa é pouco mais do que um sopro a provocar suaves ondulações na tranquila enseada. Sentindo no rosto o frescor da aragem, observa as casas enfileiradas entre o morro e a areia, próximas à beira d’água. Mais à direita, vê a cor do ocaso refletir no mar.
-Bléeemm! Bléeem! O barulho do sino se mistura ao chilrear dos pássaros que se abrigam nas árvores. “Amanhã vai ter barcos na água”, conclui sentado na cadeira da varanda. Não é pescador. Mas acostumou-se à vida da vila e dos moradores.
Levanta-se da cadeira e vai à outra ponta da varanda. De lá, olha as primeiras luzes dos postes. Admira as casas, a igreja e algumas construções centenárias que deram origem ao povoado açoriano. Por uma das pequenas ruas, caminham os que voltam do trabalho. Despertam lembranças de horários e agendas; produção, resultados. Joga um agasalho sobre os ombros e sai. Caminha em direção ao boteco como, em outros tempos, ia de um hotel a um Pub londrino; a um Café num Boulevard parisiense.
Na rua lateral da igreja, a casa açoriana de portas abertas. É de lá que vem o cheiro do marisco ao bafo, do tilintar de copos, da conversa cantadinha...
Antes de entrar, apaga as lembranças recentes. Do trabalho de sucesso, das viagens pelo mundo, da riqueza acumulada. Lembrou o momento em que chegou em casa e sentiu o vazio da própria existência.
É hora de ancorar no porto da vida! Decisão rápida e sem muito pensar... Olha para a rua, agora deserta, e sente a maresia trazida pela brisa da noite. Um prato de marisco, uma cerveja gelada e certeza de que amanhã, ao cair da tarde, estará na beira da praia ajudando a puxar uma rede; ouvindo histórias, alimentando as galinhas no terreiro, tirando o mato da pequena horta. Ao final do dia, sentará na cadeira da varanda. Sentinela do ocaso a observar o fim de mais um dia na mansidão da enseada.
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