top of page

"Rastros na Neve", crônica de Léo Borba


O trinado suave reverberava pelo corredor. Uma melodia de notas precisas ocupava o vazio do corredor. Na sala do café, o hóspede ouvia a música que se aproximava. Tentava lembrar o título quando ela parou.


-Bom dia – saudou a mulher de uniforme ao entrar empurrando o carrinho com os bules.

–Bom dia – devolveu ele ao sentir os aromas do café e do leite que ela colocou no bufê.

– Os pães de queijo saíram do forno ainda agorinha! – alertou a mulher antes de sair com o carrinho.


A música voltou a ecoar pelo corredor, até se extinguir atrás da porta da cozinha. No canto da sala, o fogo crepitava na lareira e aquecia a sala na manhã gelada de inverno. “Assobiar deve ser um ato reflexo do estado de espírito”, pensou, entre uma mordida no pão de queijo e um gole de café.


Deixou a mente divagar sobre este hábito surgido há séculos, quase extinto nestes tempos de correria com fones a injetar música nos ouvidos. Terminado o café, voltou para o quarto. Pela janela, viu o termômetro da rua marcando zero grau. Vestiu o Sobretudo e saiu.


Na recepção, lembrou o nome da música. Escreveu uma mensagem, colocou num envelope e mandou entregar a mulher do café. Calçou as luvas e deixou o hotel.


Na calçada, parou pra observar a neve que cobria os telhados e o gramado que circundava o pequeno lago congelado. Então, embarcou no carro e foi embora.


“Assim como a lenha na lareira, tua música me aqueceu as lembranças. Obrigado pela Somewhere, my love. Mais do que um assobio, era o sopro em forma de poesia. Ah! Os pães de queijo estavam ótimos” -Quando ele voltar, eu agradeço. – Disse ela, com o bilhete entre os dedos. Sentada, descansava nos fundos do hotel.


Mais abaixo, o peão andava pelo campo. Logo, logo, o sol vai transformar em fumaça, os rastros deixados na neve que cobre a relva. Desta vez, ao assobio de Red River Valley.




bottom of page