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"A Promessa do Santo", crônica de Léo Borba


Foto: Léo Borba

Um aceno a mais e o portão se fecha. Por entre as grades, vê o filho entrar numa das salas. Em frente a creche, o olha o dia; sente no rosto os chuviscos trazidos pelo vento. Deixa o guarda-chuva na mochila e caminha pela manhã. Na esquina ainda restam alguns “santinhos” do primeiro turno. Antes que fiquem molhados, apanha um e segue.

Apressa o passo; o sol brinca de aparece-e-esconde; chega ao ponto de ônibus. Acomoda-se no banco e, ao som do aguaceiro, no abrigo, observa o “santinho”. Pela Segurança. Pela Educação – anunciava. Olha para o pequeno retângulo de papel. “Em eleição é o “santo” que faz promessa”- pensa, sem evitar um pequeno riso. O Sol reaparece; o ônibus aponta na entrada do bairro.

Ao embarcar, lembra do filho na creche. Pela mão da “tia”, levado para a sala. “No ano que vem precisamos encontrar um outro colégio”- Pensa ele, ao passar a catraca. Nos olhos, a admiração por se dar conta de que o filho já vai iniciar o primeiro ano do Ensino Fundamental. No ônibus, vários bancos vazios. Mas ele decide ir em pé.

Daqui a pouco estará sentado, por várias horas, na boleia de um carro blindado. Com ele, um grupo armado e os malotes com muitos valores. Ao descer do ônibus, joga o pequeno panfleto. A pé, segue o resto do percurso sem perceber que o vento carregou o “santinho”. Pela Segurança. Pela Educação. Era o anúncio; a promessa do “Santo”.

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